As Quatro Etapas Alquímicas do Ser por Maria Flávia de Monsaraz
07-06-2014 18:51
A mutação energética actua sempre em quatro etapas bem definidas a que os antigos chamaram: Nigredo, Albedo, Citredo, Rubedo. Ou seja a Obra ao Negro, ao Branco, ao Amarelo e ao Rubro ou Vermelho.
Nigredo
«Putrefactio»; «Solutio, Separatio, Dexisio»
É o estado caótico da decomposição.
O Nigredo ou fase Negra da Obra, é a primeira etapa. Momento altamente crítico, emocionalmente e mentalmente caótico, situa o início da maior crise da nossa existência, que desencadeia o processo de transformação. É a etapa mais difícil e mais dolorosa de toda a Alquimia. Quando as estruturas de segurança que através do Tempo tínhamos edificado nos são violentamente arrancadas. A pessoa sente-se subitamente perdida, sem as referências que lhe eram familiares. O Nigredo obriga à rendição do Eu, à identificação interior com a máxima fragilidade. Momento intemporal, entre a Vida e a Morte. Necessário para o possível despertar de um novo nascimento. Ponto em que o Ser e o não-Ser se confrontam. Quando a pessoa sente fugir o chão e não tem mais a que se agarrar. Seja trabalho, segurança material, vida sentimental, qualquer forma de dependência familiar ou conjugal...
É uma oposição limite, perda, destruição. Nesta primeira etapa da Obra, o sofrimento atingido exprime a resistência do Eu a deixar-se cair no mais fundo de Si, a descer ao vazio existencial da sua Lua própria. É o Tempo de se confrontar com uma absoluta desprotecção, com a sua noite mais funda, o que habita em Si de remoto, assustador e desconhecido...
Desse «descer interior» emerge o mais doloroso, porque é o mais Solitário de todos os Sentimentos...
Deserto que nos cabe atravessar, pois só ele nos permite atingir, por Oposição e Polaridade, o verdadeiro Oásis, a Paz profunda.
A Paz de quem já conheceu a «guerra». A Paz de quem encontrou a resposta. Essa resposta que só nós, em nós, nos arquivos mais íntimos e subtis da memória, podemos encontrar...
Numa perspectiva de evolução o que está em causa na Obra ao Negro é levar cada Ser humano a «acordar» para uma Vida com mais sentido.
O Nigredo obriga a sair de uma postura inconsciente de esquecimento. Esquecimento de si, esquecimento da Ordem Universal. O Nigredo remete-nos para a Consciência desse esquecimento e, finalmente para a aceitação dessa Ordem.
Segundo Étienne Guillé, o que se passa ao nível biológico no Nigredo é que as enzimas cortam determinadas sequências de informação no interior das próprias moléculas de ADN. Isto provoca uma desestruturação do nosso programa genético, abalando igualmente aquilo a que podemos chamar o «velho Ego», a anterior personalidade, a pessoa que tínhamos sido.
O elemento a trabalhar no Nigredo é a Terra.
Albedo
Ou fase Branca da Obra, é a segunda etapa deste processo.
Corresponde a um momento de não-resistência, de não-violência, à aceitação do sofrimento causado pelo Nigredo. Houve uma perda de Fogo. É uma altura de paragem. Propicia o início de um outro movimento. Psicologicamente, corresponde a um estado de indefinição de identidade. Ao nível da informação genética deu-se uma desestruturação, embora ainda não consciente. Um novo registo de informação irá inscrever-se neste «branco» do Albedo, nesta nova receptividade. Acabou a condição do «solve«, o período da dissolução, começa a fase do «coagula».
Diz ainda Étienne Guillé que no Albedo se perdem sequências de informação genética, outras são ampliadas um certo número de vezes, o que permite uma maior receptividade a energias mais subtis. O Albedo acontece quando, depois de um momento de stress, de uma crise emocional, da morte de alguém próximo ou de uma separação, as pessoas se sentem passivas, como se já não vibrassem. Sem entusiasmo nem convicção. Com dificuldade em agir e tomar decisões.
No Albedo a pessoa sente que já não é nem voltará jamais a Ser quem foi. Apagou-se o Fogo instintivo, o Fogo do fundo da Terra. O Fogo da sobrevivência, compulsivo e irracional. Fogo que, numa primeira fase de Vida, a todos anima. Este Fogo afirma-se ainda «contra» o Céu. É um Fogo reactivo, prende-nos ao Passado da Terra. Nascido do medo da Morte, activa toda a forma de agressão e de violência.
Trabalhado pelo Nigredo esse Fogo extingue-se, para que na última fase da Obra, um novo Fogo, o Fogo do Céu, a evidência da Fé e do Amor, possam finalmente irradiar, a partir do mais fundo da Alma. Ao nível psíquico, o Albedo é sentido como sensação de Morte, de perda. Perda de quem fomos, perda de alguém ou de alguma coisa que nos dava segurança. Essa perda reduz a energia disponível. Manifesta-se por uma incapacidade de continuar a luta, por uma qualquer forma de impotência ou de inacção perante as pressões do dia-a-dia. Depois do Nigredo, como consequência dessa crise maior, a pessoa já não tem a força que tinha anteriormente para se opor às circunstâncias da Vida, sente-se muito cansada. Nesta etapa do processo, encontra-se, por assim dizer, «vencida pelo destino». Por isso, a etapa do Albedo pode provocar sentimentos de insegurança e de inferioridade. Até uma certa perplexidade: a pessoa não se reconhece, sente-se diferente, não percebe porquê...
No entanto, numa perspectiva de Evolução, ou seja, do ponto de vista da Obra, é uma experiência fundamental. Um estado de transição. A pausa necessária para um momento de viragem que irá produzir uma nova resposta vibratória, o nascimento de um novo Ser. O Albedo prepara, ao nível celular, a reestruturação de uma mais evoluída informação genética. É o prenúncio de um novo dia.
Alba, igual a madrugada... O Elemento a trabalhar nesta fase é a Água.
Citredo
Ou terceira etapa da Obra, é ainda uma fase intermediária. Corresponde, segundo Étienne G. à reorganização de uma nova ordem topológica das sequências de informação do ADN dentro da célula. Esta fase ainda é passiva, não emite vibratoriedade.
No Citredo, a informação que corresponde à Nova Ordem ainda só se encontra registada numa das cadeias de ADN. Se nesta fase houver resistência psicológica ou recusa interior à evolução, o processo em curso pode ainda perder-se, bloquear ou retroceder. É um momento perigoso e definitivo. Depois de se entrar em Nigredo, a crise que põe em movimento o Processo Alquímico, começa a trabalho de desestruturação genética para uma futura regeneração. Se o processo não chegar ao fim, se o objectivo da Obra não se realiza, as energias bloqueadas vão somatizar. Aparecem mais tarde no plano físico, sob a forma de uma qualquer enfermidade:
«em-fermo = fechado dentro». A célula cancerosa é um bom exemplo.
O Citredo é a etapa Mental do processo. Se a pessoa não bloquear, por revolta ou por medo, o movimento das energias, a etapa do Citredo revela, ao nível psicológico, uma maior abertura mental e emocional, que permite à pessoa intuir uma outra forma de Vida, um novo Caminho. É nesta altura que as pessoas percebem como eram precários os seus antigos valores. Neste momento, elas entendem que as convicções que sempre motivaram o seu antigo modo de ser não têm Luz suficiente para aguentar a crise.
Então sentem uma necessidade urgente de procurar alguém que as oriente, que lhes passe uma nova informação, uma mais abrangente visão do Mundo. Alguém que lhes ensine novos valores, capazes de dar sentido e significado ao drama por que estão a passar. Embora nesta penúltima fase da Obra as pessoas ainda não consigam mudar inteiramente os seus comportamentos, mesmo que ainda não encontrem em si a força necessária para pôr os novos ensinamentos em prática, começam no entanto, timidamente, a ter um novo olhar sobre as coisas: a agir de um modo mais pacífico, menos egocêntrico, mais fraterno. Despertam para uma forma mais aberta e mais doce de estar no Mundo...
Ainda lhes falta Fogo, convicção e expandir esta nova Consciência no real. A informação recebida no Citredo terá de ser, segundo Guillé, assimilada pelo próprio e replicada pessoalmente na outra cadeia do seu código genético. Só assim o processo se torna irreversível. O que irá infalivelmente conduzir à última etapa desta Alquimia, ao novo Fogo que no fim da Obra irrompe do íntimo do Ser como uma Ressurreição.
Este último Fogo é activado pelo Rubedo a quarta e última etapa do processo Alquímico. O elemento a trabalhar no Citredo é o Ar.
Rubedo
A Obra ao Rubro
É a última transformação das energias. A última Alquimia, o milagre do Fogo transmutado, o Sol da Consciência iluminada.
Ao nível biológico, na sequência do que ensina Étienne Guillé, o Rubedo ocorre quando a cadeia do ADN é replicada. A informação nela contida passa a ser definitiva, irreversível. A pessoa não mais será quem foi. O Fogo que a anima é agora um outro Fogo. As suas motivações não serão mais as mesmas motivações. Assimilaram-se novos Valores, uma nova qualidade de informação. Acelerou-se a frequência vibratória. Subiu a energia. Cumpriu-se a propósito Alquímico.
Uma nova emoção invade o Ser, onde o medo da Morte já não encontra lugar. O sentir sai da dimensão comum, vibra na Eternidade. Atingiu-se a Pedra Filosofal.