A Percepção Pessoal e o Ciclo da Vítima por Isabel Maria Angélica - 19.Jul.2016

19-07-2016 11:11

Numa perspectiva superior da nossa visão interna, conseguimos todos compreender que somos seres humanos a fazer a experiência na Terra, quiçá, pela 300ª vez. Nessa visão de águia, conseguimos entender através da nossa mente racional que andamos todos atarefados com as nossas vidas, a tentar gerir da melhor forma que conseguimos os nossos padrões, medos, inseguranças, dons, alegrias e desejos. Nada nos difere a partir dessa perspectiva. Não há melhor nem pior. Há tentativa e erro que nos permite a consciência e a materialização da nossa humanidade e divindade da melhor forma que conseguimos.

Até aqui tudo pacífico. Respiremos…

Contudo, o desafio coloca-se quando observamos a vida (nossa e dos demais) a partir da nossa percepção totalmente pessoal ou, como diz o povo, a partir do nosso umbigo. Aqui, neste plano tridimensional de percepção, já existe a comparação, a expectativa, a mente, as feridas e a vítima que nos imprime uma forte subjectivação de tudo o que nos rodeia e de tudo o que nos toca. Perdemos a objectividade da visão da águia e é um passo até adoptarmos a postura da vítima/manipuladora que avalia, pondera, pesa, ataca e se defende a partir das suas avaliações pessoais.

Com esta visão mais reduzida da vida que nos alimenta e nos guia, ficamos também mais reduzidos no que toca à sinceridade e transparência com que levamos as nossas relações pessoais, uma vez que quase todos os afectos (sejam eles quais forem) são avaliados, ponderados, pesados, num misto de ataque e defesa a partir das nossas avaliações pessoais. Isto é um facto, pois poucos dominam a arte da verdadeira isenção perante os eventos da sua vida interna e externa. A esses tendemos chamar de guris. Mas mesmo assim, a maioria de nós guarda sempre a secreta vontade de os tornar deuses, esquecendo que existe também neles/as a mesma humanidade que nos une nesta grande viagem pela Mãe Terra.

Uma das grandes feridas da humanidade é a separação. Mal nascemos cai em nós o véu da separação da nossa alma da Fonte Criadora e tentamos agarrar-nos à mama da nossa mãe para irmos sentindo de novo a segurança. Mas nos dias que correm até essa mama nos é negada pois a vida corre cheia de pressa. Andamos então parte da nossa primeira infância e depois adolescência a querer pertencer a grupos - a família, os amiguinhos, a tribo… Depois disso procuramos o par com quem fazer vida e lá vêm os filhos e tudo o mais… Outros/as ainda buscam os círculos, os grupos, as classes onde se podem inserir e assim “fazer parte”. Há um desejo imenso das nossas Almas de “fazerem parte” e assim resgatarem nesta vivência humana o que é isto de voltarmos a ser UM e assim irmos limpando de dentro de nós a ferida da separação.

Ainda assim, parece que tudo é sempre insuficiente - estar neste grupo, naquele círculo, na outra família nunca é suficiente. Os outros nunca são suficientes pois são altos, ou magros, ou gordos, ou arrogantes, ou mandões, ou choram, ou riem demasiado… A partir da nossa perspectiva pessoal colocamos defeitos quando sentimos que afinal aquele grupo não presta e não nos serve. Observamos a partir do nosso umbigo, cheio de feridas, dores, expectativas e projecções, e classificamos o que está fora de nós como algo insuficiente ou castrador ou que nos limita a individualidade. Vamos mais longe ainda - fazemos questão de bater o pé e dizer “Eles não me compreendem e não me aceitam como eu sou!”… E temos toda a razão, como é óbvio! Pois a partir da perspectiva da vítima/manipuladora, é tão mais fácil delegar nos de fora aquilo que deveríamos manifestar a partir de nós - a responsabilidade de recebermos da família, do grupo, do círculo ou dos colegas de trabalho o ESPELHO absolutamente fiel daquilo que nós vibramos, pensamos, falamos e sentimos.

A partir da perspectiva da vítima/manipuladora (das quais tenho vindo a escrever noutras textos e cujos links podem ver abaixo) TODOS os motivos servem para se agarrar conceptualmente a todos os motivos para se zangar com o pai, a mãe, os amigos, os professores e patrões, pois jamais terá a capacidade de mergulhar em si mesma e assim perceber que, na realidade, o que eles manifestam é a vibração daquilo que ela é. E este conceito provoca zanga, ira e até ataques de fúria para quem está a ler este texto. Consigo imaginar aí uns resmungos do tipo “mas quem pensa que ela é para escrever estas coisas?!”… Eu não penso que sou. Sou sim uma mera caminhante da vida e que às custas das minhas experiências e de beber de outros que caminham há mais tempo que eu vou aprendendo mais sobre mim mesma. E dado que assumi nesta vida a missão do serviço e da coragem de dar a cara por essa missão, tenho também a coragem de ir escrevendo textos como estes que me saem da vivência pessoal. Mais do que falar sobre os “outros”, falo do que me toca pessoalmente.

Continuemos então…

Dado que não existem culpas nem desculpas, podemos agora tentar observar o padrão da nossa vítima/manipuladora com uma consciência de RESPONSABILIDADE. E esta responsabilidade precisa, inevitavelmente, ser vivida com a coerência para assim haver cada vez mais transparência naquilo que emanamos, pensamos, dizermos e sentimos. Caso contrário, a densidade toma conta da mente que mente que nos faz desperdiçar energia ao verbalizarmos considerações sobre os outros, a sua conduta, o que fazem, o que dizem, etc. É tão mais fácil apontar o dedo ao que erra, pois a nossa expectativa é que o outro seja perfeito (seja lá o que isso for), pois assim ele/ela só irá espelhar a nossa perfeição. Claro que seria o ideal, não? Mas é uma chatice, pois o outro/a não é perfeito e insiste, ainda por mais, apresentar TODA a sua humanidade no mau humor, conduta e palavras! Como ousa o outro ser humano e assim me irritar com tudo aquilo que espelha sobre mim?!? Perante tamanha “afronta” ficamos zangados, deixamos de falar com o outro/a, batemos a porta e na percepção pessoal o outro/a passa a ser alvo das críticas, ataques e projecções que, ainda por cima, negamos que partem de nós mesmos. Pois a CULPA é do outro/a… sempre fora e para fora de nós mesmos.

Será que, no fim de tudo isto, a culpa é do outro que não me deixa ser eu numa família onde eu quero ser amado, num círculo onde eu quero expressar a minha individualidade, ou num grupo de trabalho onde a minha voz não se faz ouvir? Ou a responsabilidade é minha de, em cada um destes círculos, ir trabalhando o espelho fornecido por cada actor e assim aprender a me posicionar dentro de mim e no grupo onde almejo sinceramente estar de corpo e alma?

Será que ainda é preciso queimarmos tudo o que vamos construindo com a nossa experiência apenas para provar pontos de vista pessoais, lançando nesse fogo que tudo consome os afectos, as concretizações e a tentativa de fazer parte da vida de alguém? 

Eu sei e acredito que os pontos de vista são isso mesmo - pessoais. Também os tenho e ainda bem! Sinal que estou a viver com os dois pés e raízes na Terra. Também erro e ainda bem, pelo mesmo motivo. Mas há que ir tentando fazer mais e melhor a partir da experiência daquilo que vamos semeando. Sinal que estou a semear bem é quando volto a abraçar pessoas que pensava que já tinham saído da minha vida por causa das minhas leituras pessoais. E assim conversarmos de coração limpo e no final consagrar tudo com um abraço sanador que tudo vai limpando e transmutando. 

Sou grata pelo que tenho aprendido sobre mim mesma e pelo que a Grande Mãe me devolve como aprendizagem interno.

Desejo-vos um bom caminhar!

Aha! Aho!

Isabel Maria Angélica

www.terrasdelyz.net

 

Este texto pode e deve ser divulgado desde que respeitada a sua fonte:

Isabel Maria Angélica | 19 de Julho de 2016 | Terras de Lyz | www.terrasdelyz.net

 

Ilustração de Amanda Sage - Rebirth

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