A desfragmentação do EU e o ciclo da vítima por Isabel Maria Angélica, 21.Dez.2016

21-12-2016 12:12

Solstício de Inverno

Na maioria dos casos, há um momento da nossa vida em que algo traumático ocorre e, de forma consciente, percebemos que é necessário procurarmos respostas para perguntas que nunca tínhamos feito até então. Queremos saber o porquê de algo tão doloroso e transformador nos estar a ocorrer: porquê daquela doença, daquela dor, daquela separação, daquela morte, daquela perda. Passamos a noite escura do ser que nos mundos de conhecimento ancestral é chamada de noite escura da alma.

Procuramos, nessa altura respostas que o mundo onde estamos inseridos não nos dá e, normalmente, essas respostas iram ser procuradas numa busca espiritual que cremos que nos irá colmatar as falhas de entendimento sobre o porquê.

Assim começa um caminho dito espiritual. Chegam-nos doutrinas, caminhos, professores, mestres e escolas onde depositamos toda a nossa esperança para sejam esses agentes exteriores a nós a responder a todas as dúvidas existenciais para que as perguntas internas tenham, finalmente, um desfecho em forma de respostas.

Fazemos cursos, recebemos todos os tipos de terapia e chegamos a círculos. Corremos incessantemente para tudo aquilo que consideramos que nos irá, finalmente, preencher. Endeusamos as doutrinas, caminhos, professores, mestres e escolas colocando-os num altar. Consideramos que ali reside a salvação e que, agora sim!, estaremos salvos/as de toda a agonia das questões existenciais que nos atormentam. Consideramos que é ali que iremos descobrir, finalmente, como dar um fim ao buraco negro do nosso coração e mente. Esperamos que fora de nós venha o milagre.

Contudo, há um momento em que isto não chega. O vazio continua. E temos ainda mais perguntas, mais porquês. Como ali naquelas doutrinas, caminhos, professores, mestres e escolas não chega a iluminação, passamos para outras doutrinas, caminhos, professores, mestres e escolas. Pulamos de lugar em lugar à espera... esperamos e esperamos que chegue algo ou alguém que, por fim, nos possa salvar. Pelo caminho, arrasamos por tudo aquilo que escolhemos aprender, destruímos os professores e os mestres, mal dizemos as escolas e doutrinas, sacudimos a água do nosso capote que nos implorou cura. Ou então, rendemo-nos à evidência de que afinal nenhum desses sítios ou pessoas fará aquilo que temos de ser nós a fazer – desfragmentarmos o EU que anda há milhares de anos e há centenas de vida a ser alimentado numa Roda de Samsara que é implacável em lições de responsabilização.

Todo o caminho que fazemos é espiritual

Sim! Todo o caminho que fazemos é espiritual... pois somos espírito sempre que se manifesta no físico e que apresenta uma mente e um acumular de emoções. Mesmo os ditos cépticos são seres espirituais alimentados por uma alma e que está conectada a um espírito e que, por sua vez, pertence a um grupo de almas. O objectivo deste EU é fazer caminho de volta ao TODO e enquanto este caminho não for realizado o vazio e as perguntas permanecem. Os traumas, dores e perdas continuam a acontecer para que a nossa atenção seja insistentemente direccionada para a resolução do vazio interno onde residem todas as respostas para o mistério de quem somos. E o que somos é, em súmula, um espírito a fazer a experiência na matéria há milhares de anos e centenas de vidas. Nesse momento somos chamados/as à TOTAL responsabilização pelas nossas escolhas. Sem dó e piedade, somos esvaziados/as de tudo para que no vazio encontremos a essência de quem somos.

Aqui neste ponto ou assumimos a responsabilidade pelo que atraímos nesta vida na matéria/espirito ou delegamos nas ditas doutrinas, caminhos, professores, mestres e escolas essa responsabilidade. Na primeira opção, aceitamos o caminho da busca interna que eventualmente chegará à proposta de plenitude, nem que seja pontual. Na segunda, aceitamos o caminho da culpa e vitimização, onde nos colocamos ao serviço das feridas ocultas que teimamos em não querer curar. Ou permitimos a dissolução/desfragmentação. Ou teimamos na ilusão de que afinal somos bem mais astutos/as que aqueles que nos oferecem os espelhos pois estão ao serviço da responsabilidade.

A desfragmentação do EU

Nos caminhos xamânicos ou nas doutrinas da responsabilidade são levadas a cabo propostas de trabalho interno que levam à dissolução, à desfragmentação. Do quê? De todas as ideias pré-concebidas do EU, de tudo aquilo que o nosso EU considera como verdades absolutas, garantias que entendemos serem naturais apenas pelo facto de que somos muito espirituais, certezas imutáveis baseadas na cegueira de quem não se quer VER na escuridão de si próprio/a.

Nestas propostas de caminho, aquele/a que se senta na cadeira do professor/mestre/xamã sabe que o seu papel não é o de transmitir falsas esperanças, palavras doces ou relatar visões de entendimento imediato. Esse ser sabe que tudo isto não existe, pois sabe por experiência de saber feito que cada um/a deverá percorrer o seu próprio caminho de dissolução e desfragmentação até chegar ao ponto em que nada é mas que tudo existe. Aquele ponto em que a mente que mente deixa de ter controlo nas decisões, o coração deixa de tomar as coisas pessoalmente a partir da ferida e o corpo se transforma num receptáculo ideal para a luz divina que se deseja manifestar no sagrado da vida na Terra.

Contudo, é aqui que aquele/a que busca respostas se sente afrontado, mal tratado, humilhado e perdido. É neste ponto em que deverá escolher se autoriza internamente a dissolução do EU ou se irá perpetuar a arrogância de quem acha que sabe mais do que aqueles que abrem caminhos. Aqui reside a profunda dissociação do EU em relação à sua Alma.

Do porquê ao para quê

A desfragmentação do EU implica contactos sucessivos com a humildade, a compaixão e amor. Implica mergulhos constantes nas cavernas mais escuras para que aí, tal como um mineiro, possa ser garimpado o ouro escondido em milhares de anos e centenas de vida de acumulação de experiências negativas e sofrimentos carregados na informação celular que se manifesta no corpo com mente.

No entanto, apesar de muitos serem os chamados a esses trabalhos, poucos o aceitam verdadeiramente, pois a dissolução implica a perda da persona construída em modo de sobrevivência automática e desconectada do alinhamento do Eixo Interno de Poder. Vem o EU e barafusta, agride, zanga-se, berra, lança fel, fala mal e age a partir da maldade que está guardada bem no escurinho do Ser. Mas, de forma paradoxal, o EU, nesse instante, e de forma automática, diz: a culpa é dele/a, não é minha. E assim prossegue a caminhar na vida, fugindo de si mesmo/a, do seu vazio, das perguntas que o/a levaram até ali, saltando de doutrina em doutrina, de caminho em caminho, voltando a escudar-se nos “porquês” quando na realidade deveria buscar respostas ao “para quê”.

Buscar o “para quê” é a forma de assumirmos a responsabilidade de TUDO o que atraímos à nossa vida, pois somos responsáveis por tudo o que dizemos, fazemos, emanamos e pensamos. TUDO é da nossa responsabilidade. O mundo pode estar a ruir, o que tínhamos como garantido na vida pode estar em cacos, as relações pessoais e profissionais podem desmoronar-se, mas TUDO é da nossa responsabilidade, na medida em que atraímos tudo isso para que o EU e a Alma pudessem comunicar e aferir onde mudar e transformar de forma a não continuar a alimentar o mesmo ciclo vicioso de situações e relações. E isto dói... dói principalmente ao EU que prefere, na maioria das vezes, fazer ouvidos moucos às evidências das escolhas totalmente pessoais e intransferíveis.

O ano de 2016 e o alinhamento com a coerência da verdade

O ano que está agora a findar, este ano com a energia do 9, convidou-nos a percebermos o que é isto da coerência da nossa verdade interna. Com a energia do 9, fomos levados a fins de ciclos, uns mais doces, outros mais brutais. Mas nada poderia ficar como estava. A coerência da nossa verdade interna, essa sábia linha guia, pediu que as relações se alinhassem às escolhas internas subtis ou conscientes. Pediu que mais alguns véus saíssem e que a verdade se apresentasse um pouco mais. Que verdade? A nossa. A de cada um. A da responsabilidade individual. Para uns, apesar do que isso implicou, foi aceite como um dado adquirido e um caminho a ser feito. Para outros implicou o perpetuar do argumento “a culpa não é minha, é do outro/a”. E qualquer uma das escolhas está correcta, pois afinal vivemos precisamente num Planeta de escolhas onde a dualidade continua ao serviço individual e colectivo para a aprendizagem. No entanto, uns terminam o ano de consciência tranquila. E outros ainda sentem o vazio das perguntas não respondidas.

O ano de 2017 e o casamento do espírito e da matéria

Vamos entrar no 5º ano da nova era da Terra depois do “fim do mundo” tal como o conhecíamos a 21.12.2012. Se voltarmos atrás a esse momento de transição pessoal e planetária iremos recordar o que andávamos a fazer e a pedir ao Universo. Todos os desafios daquela altura levaram-nos a orar ferverosamente a todas as forças criadoras para que algo mudasse, alguém nos ensinasse, para que a cura se desse. Pedimos tanto e as respostas começaram a vir. E o que fizemos com elas? Para quê? Estamos a honrar esses pedidos? Estamos a honrar tudo aquilo que atraímos para essas aprendizagens? Estamos a cumprir o que a nossa Alma pediu com tanta força para ser feito?

O ano civil que vai entrar será marcado pela energia do 1... novos começos, novos ciclos. Iremos ser chamados/as a casar definitivamente o que somos no campo espiritual com a matéria. Estamos alinhados/as com o chamamento do nosso Espirito ou estamos em comunicação com amálgama do nosso campo astral doente e confuso? Mesmo que, para já, não tenhamos respostas, em 2017 iremos ter oportunidade de o validar, pois a Grande Mãe está a pedir esta vivência visceral a cada um dos seus filhos e filhas. Iremos tomar consciência de tudo o que semeámos desde o chamado da Alma antes de 2012 e iremos entender se, efectivamente, temos sido honestos na recepção de todas as respostas que temos recebido a partir dos “porquês” do despertar.

Para aqueles que, neste momento, vivem em função do “para quê”, creio que será mais fácil o caminho. Pois o “para quê” já implicará um posicionamento de responsabilidade perante tudo aquilo que dizemos, fazemos, emanamos e pensamos.

Entrar na gruta

Toda a vida é gerada a partir da humidade que é nutrida na escuridão. Basta pensarmos um pouco sobre como fomos gerados/as – dentro do útero escuro e húmido da nossa mãe biológica, local secreto, oculto e místico onde a vida se dá em mistérios ancestrais. É nesse coração arcaico, nessa escuridão, que somos chamados a partir dos planos superiores para, eventualmente, darmos corpo à nossa Alma que pede evolução, aprendizagens e experiências que a ajudam a limpar a consciência do EU e transformá-la, gradualmente, numa consciência do TODO.

Em 2017 seremos chamados, ainda com alguma insistência, a irmos às grutas primordiais dos nossos EU’s de forma a irmos garimpar na terra suja e encardida do nosso caminho de milhares de anos e centenas de vidas. Contudo, é aí que iremos encontrar as pepitas de ouro da nossa verdade e sabedoria que nos vão ajudar na reestruturação paciente e gradual de quem somos efectivamente. Mas não deverá ser a meta que nos deverá ocupar, mas sim o caminho, passo a passo, paciente e constantemente.

Entrar na gruta é algo que deverá ser aceite como normal e natural. A possibilidade de irmos aos primórdios da nossa formação e aí resolvermos o que queremos ser e manifestar é aquilo que nos garante, também, o estatuto de deuses criadores e, acima de tudo, de filhos e filhas da Grande Criação Primordial. É uma bênção podermos fazê-lo sem termos que morrer efectivamente nesta vida, para depois nascermos uma e outra vez. É nesta gruta da Criação que reside o segredo da Árvore da Vida, da Fonte da Juventude Eterna e da Consciência Divina que nos rege a um nível interno e subtil, onde o EU está dissolvido e desfragmentado, onde a mente não precisa entender nada e onde a vítima não age mais na culpa do “não fui eu, foi ele/a”.

Para aqueles que ainda negam a necessidade de percorrer os caminhos dentro das grutas e pelas cavernas do Ser, desejo boa sorte para o caminho. Não existe leveza e beleza no caminhar se ainda carregam os grilhões da densidade desconhecida e oculta nos medos.

Cerimónia neste Solstício

Hoje começa o Inverno. Aqui no Hemisfério Norte as paisagens estão mais estéreis, faz frio e em algumas partes podemos ver neve ou campos brancos. É tempo de recolhimento, de irmos às raízes. De honrar o caminho feito e celebrarmos com os nossos ancestrais e com aqueles que nos ajudaram a percorrer caminho com os caminhos que eles/as próprios/as têm aberto.

Façam o vosso altar e decorem com elementos da terra que são característicos nesta altura. Acendam uma vela e um fogo, agradecendo o caminho percorrido dentro e fora. Acolham todas as aprendizagens como forma de crescimento e voltem a recordar cada passo dado. Nada foi ou é em vão. Tudo faz parte daquilo que somos pois em responsabilidade assim o atraímos. Bem-digam quem já partiu. Agradeçam todo o amor. Há que cuidar das raízes para que a Árvore interna possa ser nutrida com amor e nutrição. Para que, quando chegar a Primavera, o que vos liga à Terra seja a seiva pura do bater do vosso Coração Sagrado.

Desejo-vos um bom caminhar

Em gratidão por tudo o que colhi e semeei em 2016, pois sou responsável por tudo o que digo, faço, emano e penso.

Isabel Maria Angélica
www.terrasdelyz.net
 


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Isabel Maria Angélica | 21 de Dezembro de 2016 | Terras de Lyz | www.terrasdelyz.net
 
Imagem do Fogo Sagrado em Terras de Lyz

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